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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Carta deixada por empresário morto cita repasse a deputados e vereadores

Alvo da Operação Sevandija, Marcelo Plastino se matou com tiro em Ribeirão.
Líder do PMDB na Câmara seria beneficiário; para assessoria, é absurdo.

Do G1 Ribeirão e Franca


Os nomes de funcionários públicos, vereadores e deputados são citados como supostos recebedores de dinheiro ilícito na carta escrita pelo empresário Marcelo Plastino antes de morrer em Ribeirão Preto (SP). Alvo da Operação Sevandija, que investiga fraudes em contratos de R$ 203 milhões em licitações do governo Dárcy Vera (PSD), a empresa dele, a Atmosphera, é apontada pela força-tarefa como cabide de empregos de parlamentares e meio para desvio de recursos públicos.

Segundo informações obtidas pelo Jornal da EPTV, o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Baleia Rossi, e o ex-candidato à Prefeitura de Ribeirão Preto e vereador, Ricardo Silva (PDT), teriam sido beneficiados. No texto de quatro páginas escrito à mão, Plastino admite ainda repasses ao deputado estadual Léo Oliveira (PMDB), e aos vereadores Rodrigo Simões (PDT) e Paulo Modas (PROS). O ex-superintendente da Companhia de Desenvolvimento Econômico (Coderp), David Mansur Cury, preso em setembro, também é relacionado.

Plastino foi encontrado morto com um tiro na cabeça na noite de sexta-feira (25), no apartamento onde morava no bairro Jardim Botânico, zona sul de Ribeirão Preto. Ele estava em liberdade desde outubro após obter um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Segundo a polícia, Plastino atirou contra a própria cabeça.

O empresário foi acusado de pagar propina a funcionários do alto escalão da Prefeitura e a vereadores, e apontado como beneficiário direto de contratos irregulares.

A Polícia Federal informou que só vai se manifestar sobre o conteúdo da carta após análise.

Revelações
A carta deixada pelo empresário foi apreendida pela polícia e é analisada pela Polícia Federal e pelo Gaeco. O documento, um pen drive, computadores e contratos de licitações são mantidos sob sigilo.

Conforme apurou o Jornal da EPTV, o empresário descreve que o esquema de corrupção na Prefeitura de Ribeirão Preto foi criado por políticos, que passaram a pressioná-lo. Em uma das páginas, ele afirma que os nove vereadores da base aliada do atual governo "eram vereadores de aluguel da prefeita Dárcy".

O presidente Walter Gomes (PTB), Samuel Zanferdini (PSD), Evaldo Mendonça da Silva, o Giló (PTB), Capela Novas (PPS), Genivaldo Gomes (PSD), Cícero Gomes (PMDB), José Carlos de Oliveira, o Bebé (PSD), Maurilio Romano (PP) e Saulo Rodrigues da Silva, o Pastor Saulo (PRB), foram afastados dos mandatos da Câmara no dia 1º de setembro.

De acordo com a força-tarefa, eles são acusados de receber propina e de indicar cargos na Atmosphera em troca de apoio a projetos de interesse do Executivo na Câmara de Ribeirão. Na primeira fase da Operação Sevandija, listas com os nomes de pessoas indicadas foram apreendidas pela PF com a relação dos supostos “padrinhos”.

Uma conversa telefônica gravada com autorização da Justiça pela força-tarefa revelou ainda que um assessor do deputado federal Baleia Rossi ameaçou cortar repasses da União após a demissão de comissionados na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP). Na carta deixada por Plastino, o empresário afirma ter repassado R$ 600 mil a Baleia Rossi. O deputado estadual Léo Oliveira também aparece como beneficiário, mas o valor não foi divulgado.

Ainda como beneficiários, o texto cita os vereadores reeleitos Rodrigo Simões e Paulo Modas, e o ex-candidato a prefeito de Ribeirão Preto, Ricardo Silva. Eles também aparecem como padrinhos de pessoas empregadas pela Atmosphera.

Em julho, durante uma conversa telefônica gravada pela PF com autorização da Justiça, o irmão do vereador e ex-candidato a prefeito Ricardo Silva, Rodrigo Silva, foi flagrado marcando um encontro com o advogado Sandro Rovani, também investigado. Segundo a PF, Rovani estava acompanhado de Plastino, a quem se refere na ligação como “meu amigo”.

De acordo com a investigação, o diálogo reforça as suspeitas de que havia a entrega de dinheiro em espécie a agentes políticos locais, inclusive opositores da prefeita.

Plastino também teria feito repasses de R$ 980 mil em um ano, além de um carro da marca BMW, a David Mansur Cury. Ele teve papel de destaque no governo Dárcy: foi diretor da Companhia Habitacional Regional de Ribeirão (Cohab) e superintendente da Coderp, cargo que deixou no ano passado, após o Tribunal de Contas do Estado (TCE) rejeitar licitação envolvendo a empresa e a Atmosphera Construções e Empreendimentos, investigada pela Sevandija.

Para a prefeita Dárcy Vera, Plastino disse ter doado R$ 500 mil em duas parcelas. No texto, ele aponta que a chefe do Executivo é a operadora do esquema de fraudes na Prefeitura de Ribeirão.

O Jornal da EPTV cruzou os nomes de todos os políticos relacionados na carta com as declarações feitas à Justiça Eleitoral nas campanhas anteriores. Em nenhum deles consta qualquer doação oficial feita pela empresa Atmosphera ou pelo empresário Marcelo Plastino.

Políticos citados se defendem
A assessoria de Baleia Rossi disse que o nome do deputado federal foi citado de forma absurda por Marcelo Plastino, e que espera que as investigações comprovem a inocência dele.

Por telefone, o vereador Ricardo Silva disse que nunca recebeu recursos de Marcelo Plastino ou da empresa Atmosphera, e considerou as alegações estranhas.

A advogada de Dárcy Vera disse que a prefeita está colaborando com as investigações, e que a validade da carta é a justiça quem vai definir.

Por meio da assessoria, o deputado Léo Oliveira avaliou como importante averiguar a circunstância que a carta foi escrita, e informou que ele jamais recebeu qualquer quantia do empresário.

Os vereadores Rodrigo Simões e Paulo Modas negaram qualquer envolvimento com Plastino.

Em nota, a defesa de David Mansur Cury informou que nega veementemente o conteúdo da carta e que o empresário "nunca teve nada a esconder, nem mesmo as suas diferenças com a gestão questionada".

"Lamenta acusação tão inverossímil. As suas contas estão abertas, como sempre estiveram, à disposição das autoridades", diz o comunicado.
Operação Sevandija investiga fraudes em contratos de licitações e corrupção (Foto: Marcos Felipe/EPTV)

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