Por: *Maurício Costa Romão
Embora a eleição presidencial de 2010 haja ido para o segundo turno, se dependesse apenas do Nordeste o pleito teria sido encerrado na primeira etapa, com Dilma Rousseff obtendo 59,1% dos votos válidos da região (cerca de 14,9 milhões de votos, de um total de 25,3 milhões).
Os adversários da presidente naquele pleito conseguiram 40,9% dos votos válidos locais, o que corresponde a cerca de 10,3 milhões, uma diferença pró-Dilma de 4,6 milhões de votos.
A julgar pela média extraída das duas últimas pesquisas nacionais de julho do corrente, realizadas pelo Datafolha e Ibope, ou por esta pesquisa do Ibope de agosto, a presidente ganharia de novo no primeiro turno de 2014 na região, se a eleição fosse hoje, desta feita com uma diferença de 30 pontos de percentagem sobre seus novos adversários (65% a 35% dos votos válidos).
Para traduzir esses achados de 2014 em milhões de votos é necessário considerar, inicialmente, o chamado alheamento ou alienação eleitoral (AE), soma da abstenção com os votos em branco e os votos nulos.
No Nordeste, em 2010, o AE foi de 31,2%. É possível que este indicador aumente em 2014, não só na região, mas no Brasil como um todo, dadas as insurgências de junho do ano passado.
Aquelas inquietudes, atualmente um tanto escassas nas ruas físicas, mas ainda latentes e reverberadas nas ruas virtuais, ensejaram o desenvolvimento de forte sentimento antipolítica, combustível natural para elevar a taxa de não comparecimento ao pleito e/ou aumentar a indiferença (votos em branco) e o protesto (voto nulo) eleitorais.
Entretanto, como não se tem segurança sobre a ocorrência de tais desdobramentos futuros, principalmente do ponto de vista numérico, ao invés de se supor um aumento de tantos pontos de percentagem nessa taxa de AE para 2014, é mais razoável admitir, à guisa de exercício experimental, que ela seja a mesma de 2010.
Se assim for, e já considerando o eleitorado oficial de 2014, Dilma abre uma frente no Nordeste de 7,9 milhões de votos válidos sobre seus oponentes.
A pergunta que se segue é: essa tamanha frente de votos, só numa região, significa que a eleição deste ano no Brasil já está definida no primeiro turno?
Bem, para responder adequadamente a esta pergunta há que se avaliar como está a votação dos candidatos nas localidades do país fora da região Nordeste, localidades essas que compreendem 73,2% do eleitorado (o Nordeste representa os outros 26,8%).
Para simplificar a análise e evitar comparar a região Nordeste vis-à-vis outras regiões, tome-se o conveniente atalho de observar apenas os resultados nacionais.
Levando em conta a média das últimas três pesquisas nacionais em julho (Sensus, Datafolha e Ibope), ou a média dessas três pesquisas mais a do Ibope de agosto, ou apenas esta do Ibope de agosto, constata-se haver empate técnico-numérico, em termos de votos válidos, entre as intenções de voto da presidente (50,0%) e a soma das intenções de voto dos seus adversários (50,0%).
Este resultado nacional, que é uma síntese média dos achados regionais, indica que a frente de votos de Dilma no Nordeste é contrabalançada pela vantagem dos seus oponentes nas demais localidades do país e, portanto, a resposta à indagação acima é não, já que do estrito ângulo numérico-estatístico, não se pode dizer se vai haver segundo turno ou não.
Mas seria interessante, pelo menos, fazer um cotejo entre a região Nordeste, onde Dilma e o lulismo reinam absolutos, e os três maiores colégios eleitorais do país, nos quais a presidente tem exibido números nada vistosos: baixa popularidade, baixa intenção de votos e alta rejeição, ademais de se detectar ali crescente satanização do PT.
Esses três maiores colégios eleitorais, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, têm cerca de 59,4 milhões de eleitores de um contingente nacional de 142,8 milhões, o que representa 41,6% do eleitorado do país em 2014.
Nestes lugares, a julgar pelas últimas pesquisas do mês de julho próximo passado, do Instituto Ibope nos três estados, o segundo turno estaria sacramentado se a eleição fosse hoje.
Com efeito, transformando os votos totais em votos válidos, a presidente Dilma Rousseff alcança 43% de intenção de votos nos estados em questão, mas é suplantada em 14 pontos de percentagem pela soma das manifestações de voto de seus adversários (estes e outros dados da presente análise estão na tabela que acompanha o texto).
Em 2010 o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrava o mesmo diferencial entre Dilma e os oponentes da época, 43% a 57%, o que foi decisivo para levar o pleito ao segundo turno.
Imagine-se, seguindo o critério adotado anteriormente, que a alienação eleitoral de 2014, nesses três estados, seja a mesma de 2010: SP = 23,8%, MG = 27,4% e RJ = 27,5%.
Nesse contexto, fosse hoje o pleito de 2014, os adversários de Dilma colocariam sobre ela uma vantagem de 6,2 milhões de votos nesses três redutos eleitorais. Em 2010, usando dados oficiais do TSE, essa vantagem foi maior, de 7,5 milhões de votos.
Bem, no contraste Nordeste versus três maiores colégios eleitorais, a presidente ainda ficaria na frente com um saldo de 1,7 milhões de votos. Quer dizer, a vantagem dos adversários da presidente nos seus principais redutos eleitorais não é suficiente para contrabalançar a desvantagem que têm no Nordeste.
O que se esperar daqui prá frente?
Embora ostente excepcional situação no Nordeste, a presidente Dilma tem tido sua popularidade diminuída nos últimos meses entre eleitores da região. De outubro do ano passado para cá, as menções de ótimo e bom com que os nordestinos lhe agraciavam caíram 11 pontos percentuais, segundo seqüência de pesquisas do Ibope (vide gráfico).
Essa trajetória declinante de aprovação do governo tem afetado as intenções de voto à presidente. Nota-se que tais intenções tendem a gravitar nas proximidades dos 50% de votos, quando já estiveram recentemente na faixa de 55% a 60%. Os números continuam elevados, mas em ligeira trajetória de declínio.
Com o quadro nacional há tempo estabilizado, referendado agora por essa pesquisa do Ibope de agosto, qualquer diminuição da vantagem de Dilma no Nordeste, ceteris paribus, reforça a possibilidade de haver segundo turno.
Em havendo segundo turno a oposição se pode prevalecer de dois elementos propulsores:
(1) o forte sentimento de mudança que se encontra espraiado pela sociedade (nesta pesquisa do Ibope de agosto 69% querem mudança do governo ou de muita coisa nos programas do governo);
(2) a evidência empírica, neste momento, de que os candidatos oposicionistas podem herdar acima de 70% dos votos do conjunto de eleitores cujos candidatos não foram para o segundo turno e dos eleitores que estavam indefinidos na primeira etapa.
Haja emoções! E ainda vem aí o horário de rádio e TV para aumentá-las…
*Maurício Costa Romão é economista e consultor.
Postado por Inaldo Sampaio
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