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terça-feira, 6 de novembro de 2012

O MAL ESTAR DA EDUCAÇÃO – E a falta de “estilo” dos estudantes

Por Zizo Mamede

Esse título encontra razões em qualquer círculo de conversas sobre a educação escolar na maioria dos ambientes em qualquer nível de ensino. Professores, estudantes, pesquisadores, dirigentes, têm do que reclamar. Os índices de avaliação da Educação escolar apenas corroboram, como sentenças matemáticas, esse mal estar.

Os governantes, de todos os matizes, fazem leituras mirabolantes para despistar ou justificar os problemas detectados e que não são de fácil solução. Os governantes pensam em termos de votos e mandatos e os desafios da Educação são muito grandes frente aos olhares apenas pragmáticos para períodos de tempo muito curtos.

Uma leitura mais profunda – Numa perspectiva mais geral vale a pena lembrar as leituras de inspiração arendtiana para o que muitos tratam como crise da educação: Num mundo onde tudo é transitório, onde o passado e o presente não são mais significativos porque o futuro já chegou com toda uma gama de valores e interesses fragmentados,qual seria o papel da Educação? Com certeza não seria o de transmitir a tradição, o conhecimento comum a todos das gerações passadas para as gerações recentes. Não seria o que Hanna Arendt chama de compartilhar o “tesouro comum”, o que há de mais valioso das experiências do passado com quem está chegando ao mundo.

O jogo do empurra-empurra – Em tempos de desresponsabilização com o mundo, em tempos de olhares parcelares, fica mais fácil e mais cômodo indicar os vários problemas da educação escolar isolando-os uns dos outros, num jogo de empurra-empurra em que o outro sempre é o culpado. O estudante que não quer nada. A professora frustrada e mal remunerada. O dirigente que não dirige. A família que lava as mãos. O Governo que não paga o justo. O livro didático que é conteudista. A internet que vicia e distrai. A precariedade do transporte escolar.

Esses desafios, que estão mesmo presentes, ao mesmo tempo em que agravam ofuscam a questão maior da Escola, – essa sensação comumde que a Escola está aquém do necessário dizem uns ou que está em uma crise que é parte de uma crise maior da própria sociedade – por outro lado perdem a contundência se não são encarados também um por um, mesmo que pareça ser numa abordagem reducionista. Que se corra o risco.

A falta de “estilo” dos estudantes – Já se tornou banal a notícia da violência de muitos estudantes na escola, de sua virulência, da falta de urbanidade, do bullings contra os colegas e contra os professores. Esta situação remete a um ensinamento das gerações passadas: “Educação vem do berço”. Educação aqui nestes termos é diferente de instrução, de conteúdo, de competências, de capital social.

Se não bastasse a indiferença e o alheamento dos estudantes, avulta e cresce o desrespeito pelos outros. Essasatitudes tão comuns em muitos jovens no cotidiano da escola não são um problema menor.Compõem um desafio que está na mesma matriz de banalização e de relativização de tantos males que afligem a vida.

A agressividade dos estudantes, uma característica comum aos seres humanas, mal resolvida na própria família ou ali despertada, quebra qualquer projeto de escola, mesmo o mais superficial e vazio, do tipo “O projeto da Escola é educar para o trabalho e para a cidadania”.

Estilo, gentileza, urbanidade, polidez (essa virtude tão falsa, tão necesária) não são sinônimos de passividade, apatia, alienação. São condições preliminares e mínimas a serem buscadas, primeiro na família, em qualquer experiência de família. Porque professor e diretor nunca vão cumprir papel de pai, de mãe, de tio ou de avô.

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