Adeus, Carlos Fernando!
* Italo Rocha Leitão
E lá se foi Carlos Fernando rumo ao infinito... levando nas Asas da América as nossas dívidas impagáveis pelas alegrias que nos deu
ao longo da sua existência. O domingo que abriu setembro fechou o seu ciclo de vida.
Uma vida boa, inteligente, cheia de glamour e marcada por muitas doses de Bacardi, uma das bebidas preferidas dele, aliás, todas as bebidas do mundo eram as preferidas dele.
Os ponteiros começavam a se preparar para marcar cinco da tarde quando o enfermeiro do Imip me ligou. Meu peito ardeu forte. O coração de CF já não batia mais, já não tocava mais nada.
Cantarolei baixinho pra mim mesmo: "Canta, canta passarinho, canta, canta miudinho na palma da minha mão...."CF acabara de escapar das nossas mãos, como um passarinho... Liguei para Decinho Valença e saí com Clélia rumo ao Imip.
No seu leito de morte, CF tinha ao seu lado Joana, sua primogênita.
Nos abraçamos e não trocamos palavras. As minhas lágrimas e as de Joana molharam minha Guayabera verde, vestida para homenageá-lo naquele momento.
A capela do Imip foi aberta para velar o homem que levou o frevo pernambucano para todo o País na voz de Caetano, Gil, Alceu, Zé Ramalho, Chico Buarque, Amelinha, Miúcha, Gal, Betânia, Tito Lívio, Elba Ramalho... e muitos outros.
O enterro de CF foi marcado pela alegria, do jeito que ele gostava. Na Capela do Cemitério de Santo Amaro, área central do Recife, intelectuais, cineastas, jornalistas, artistas, boêmios, todos cantaram para se despedir do amigo.
Léo Damasceno, Jota Michiles, Waltinho da Banda Pau e Corda, Cláudio Almeida, Tito Lívio, Bode Valença, Amin Stepple, Ivan Maurício, Jomar Muniz de Brito, Ricardo Tibau, Silvana Torres, Denise Maia..."Bicho", que festa de arromba foi o teu enterro!
Se o caruaruense cidadão do mundo tivesse aberto o olho teria visto também o montão de autoridades que estavam lá. O governador Eduardo Campos, o vice João Lyra Neto, os prefeitos Geraldo Júlio (Recife), José Queiroz (Caruaru), Renildo Calheiros (Olinda), os deputados João Paulo, Raul Henry, Fernando Ferro, Waldemar Borges, os secretários Antônio Carlos Figueira (Saúde-PE), Evaldo Costa (Imprensa), Cristina Buarque (Mulher), Marília Arraes (Juventude), Rômulo Maciel (presidente da Hemobrás), Leda Alves (Cultura), Jaílson Correia (Saúde-Recife).
Mesmo sabendo que se tratava de um ateu, o padre José Carlos, da Igreja Católica, pediu licença a todos para fazer suas pregações. E, para surpresa geral, não se ateve apenas à homilia. Fez também um relato minucioso da obra de CF e confessou que antes de ter escolhido a carreira de padre havia brincado muitos carnavais ao som do Asas da América. Aplausos, muitos aplausos.
Ao som de alguns sucessos de CF, conhecidos no Brasil todo, como Banho de cheiro, Canta coração, O Homem da Meia-Noite, a Mulher do Dia, Siri na Lata, Batutas de São José, Sou eu teu amor, Amanhecer,
Aquela rosa... começamos o caminho rumo à última morada de CF. E aí pintou outra conspiração dos astros do bem: CF se instalou ao lado de Chico Science. A farra deve ter comido no centro depois que pedimos licença e nos retiramos.
Vai lá, CF, dorme no teu berço esplêndido encharcado de Bacardi, e chama o homem do mangue beat, teu amigo e agora vizinho, para tomar uma contigo. "Quero ver você/no amanhecer/quero ver você/no amanhecer/do ser, do ser".
Ítalo Rocha Leitão é jornalista
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