Em viagens pelo país ao lado de Marina Silva, presidenciável tem prometido varrer 'velha política' caso seja eleito.
Na última semana como governador de Pernambuco, o pré-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, colecionou abraços e juras de apoio de representantes da "velha política" que promete combater no Planalto.
Ao se despedir do cargo na sexta-feira, ele discursou em um palanque acompanhado pelo ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) e pelo deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE). Ambos indicaram parentes para seu governo e agora vão contrariar as cúpulas partidárias para apoiá-lo na corrida presidencial.
"Eduardo é um político exemplar, que honra todos os compromissos assumidos. Trabalharei incansavelmente, com prefeitos que me apoiam, para ajudá-lo. Não medirei esforços para que ele seja eleito presidente", disse Inocêncio à Folha.
O deputado exerce o décimo mandato seguido em Brasília e já foi condenado por manter trabalhadores em suas fazendas em regime análogo à escravidão. No primeiro mandato de Campos, ele indicou um primo, Sebastião Oliveira, para chefiar a Secretaria de Transportes.
Ex-presidente da Câmara, Severino esteve com o presidenciável em ao menos três compromissos na semana. Ele prometeu ignorar a provável aliança do PP com a presidente Dilma Rousseff para apoiar o conterrâneo.
"Mesmo que o partido vá para outro lado, eu sou Eduardo. Ele é o melhor governador que Pernambuco já teve", disse o ex-deputado, que renunciou em 2005 para não ser cassado depois que um empresário contou que repassava a ele um "mensalinho" de R$ 10 mil para explorar restaurantes na Câmara.
Adversário histórico do ex-governador Miguel Arraes (1916-2005), avô do pré-candidato, Severino afirmou que Campos "não tem os defeitos" do antepassado. "O Arraes não tratava bem a classe produtora. O Eduardo trata muito bem", disse.
Filha de Severino, Ana Cavalcanti foi secretária estadual de Esporte até janeiro.
Em giros pelo país ao lado da ex-senadora Marina Silva, Campos tem prometido varrer a "velha política" caso seja eleito presidente.
"Chegou a hora de a gente aposentar um bocado de raposa que já está aí enchendo a paciência do povo brasileiro", disse a uma rádio da Bahia, em outubro passado.
"É prioritário superar a velha política do clientelismo, do abuso do poder econômico e das superadas disputas personalistas", afirmou anteontem, no Recife.
NOVOS ALIADOS
A despedida de Campos teve a presença de quatro ex-governadores que foram adversários de sua família e agora o apoiam. Um deles, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), foi citado duas vezes no discurso.
Quando o presidenciável emplacou a mãe, Ana Arraes, no cargo de ministra do Tribunal de Contas da União, Jarbas subiu à tribuna para atacá-lo, em 2011: "É nepotismo, política do compadrio, do coronelismo. É atraso do pior tipo possível, um exemplo do vale-tudo na política."
Eles se aproximaram há três meses e selaram uma inesperada aliança. O senador indicou um afilhado, o deputado Raul Henry (PMDB-PE), como vice na chapa de Paulo Câmara (PSB), candidato de Campos a sucedê-lo.
FOTOS: Geraldo Silva
Por Daniel Carvalho e Bernardo Mello Franco / Folha de S. Paulo
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