Estudante vai implantar próteses biônicas nas mãos pagas pelo estado de PE.
Material, que custou R$ 654 mil, chegou em abril deste ano.
Charles Heitor perdeu as mãos em ataque de tubarão
O recomeço de uma vida. É assim que o estudante universitário Charles Heitor Barbosa Pires, de 34 anos, define a decisão da 3ª Vara da Fazenda Pública, no Recife, que lhe deu o direito de implantar próteses biônicas nas mãos, tudo pago pelo estado. Charles perdeu as duas mãos em um ataque de tubarão enquanto surfava na praia de Boa Viagem, em 1999.
A liminar inédita no país, assinada pelo juiz José Marcelon Luiz e Silva, saiu em outubro de 2011, mas as próteses, que custaram R$ 654 mil, chegaram apenas em abril deste ano. "Eu vou viajar no dia 20 para o Rio Grande do Sul para fazer os últimos ajustes. É uma nova vida, vou precisar ainda aprender a fazer os movimentos, ela vai ser programada", explica Charles.
As novas mãos biônicas mexem os cinco dedos e podem suportar até 90 quilos, o que vai permitir ao estudante ser reinserido socialmente. "Não queríamos uma prótese qualquer, que não o reabilitaria. Queríamos uma que permitisse ao Charles voltar a trabalhar, escrever. As pessoas não conhecem os direitos que têm", afirma o advogado Marconi Barreto Júnior, que entrou com a ação em 2010.
O advogado foi professor de Charles na universidade e se lembra quando descobriu a deficiência do aluno. "Fui professor dele em duas matérias. Só percebi o problema quando ele foi fazer prova e questionei se ele já tinha procurado os direitos dele", lembra Marconi. O estudante tinha procurado ajuda, mas a questão foi outra. "Encontrei muita gente que queria se aproveitar da minha situação, que me prometia a prótese, mas tudo o que queria era usar a minha imagem. Fui ficando descrente", conta Charles.
No meio de tantos problemas, o estudante ainda perdeu a mãe em 2005, uma das pessoas que mais o apoiava. "Ela deve estar comemorando lá no céu. Quando eu perdi as mãos, ela disse que me conseguiria novas, que eu não me desesperasse. No começo, é difícil, você não quer aceitar, mas depois você passa a valorizar muito mais a vida", acredita Charles, que foi estudar, tentar levar uma vida normal.
Uma lição ficou para Charles depois da decisão da Justiça a seu favor. "Tudo é passageiro, mas a seu tempo. Você precisa ter paciência e fé em Deus, não pode baixar a cabeça. As coisas se acertam", ensina ele. "Essa decisão abre caminho para que outras pessoas amputadas também ganhem próteses que as reabilitem de fato, o próprio juiz disse isso em sua decisão", explica o advogado.
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