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terça-feira, 10 de abril de 2012

A guerra dos automóveis

A posse de um automóvel é sinônimo de poder. Nem sempre de poder ir mais rápido nas ruas das cidades grandes cada vez mais lentas, estressadas, barulhentas, fumegantes, disputadas pelos motoristas. Nem sempre de poder gozar de uma vida mais tranquila. A guerra por espaços e contra o tempo está derrotando toda a sociedade, a exceção da indústria automobilística, a mais poderosa do planeta. Mas o carro, degraus acima do bem e do mal, é sinônimo de poder mais.


Tem gente que não tem uma casa própria para morar, um bem básico, um direito óbvio nas sociedades sedentárias, mas tem como prioridade possuir um carro – Se não der um carro, que seja pelo menos uma motocicleta.


O automóvel é outro status. Um outro olhar. Andar a pé é optar por ser invisível, inclusive para ser atropelado. O carro aguça os sentidos e a imaginação. Tem propaganda que promete de tudo, de homem à mulher, de mulher a homem e a todos a liberdade, a partir da posse de um carro. O carro é mais autonomia. Mais privacidade. Mais possibilidades. Mais chances de conquistas. Em todos os aspectos.


O carro pode tudo nas ruas, inclusive nas calçadas, já que as ruas não são mais suficientes. O carro pode na casa de morada: Quantos quartos e quantas salas são maiores do que a garagem? O carro pode mais do que a motocicleta. E esta mais do que a bicicleta. O carrão pode mais do que o carrinho. O carrão não pode mais do que o caminhão, esse é um carrãozão. Quem tem carro pode mais. Quanto maior, melhor. Mais de um, é melhor do que um. É mais poder. Tem carro que já possui o seu próprio dono, o seu escravo.


Se a rua que um dia foi larga ficou estreita, abaixo as casas. Abaixo as plantas. Abaixo as matas. O carro pode com os governos, cínicos em falar de biocombustíveis e conservacionismos, mas pragmáticos e festivos quando o assunto é mais petróleo. Mesmo que seja o mais sujo, no mais oculto esconderijo. Portanto, abram alas, dobrem os joelhos, curvem a cabeça para Sua Majestade, o carro.
O carro só não pode com a agressividade humana. Pelo contrário. A guerra dos automóveis está aí, em todas as horas de todos os dias. Nas buzinas. Nos sinais. No roncar dos motores. Nos arranques dos amostrados. Nos freios ríspidos. Nos gestos e nos palavrões. O carro que tanto salva, transportando alimentos e medicamentos, só para ficar em duas compensações evidentes, é o mesmo bólido que mata. O maior mata o menor. O motorista mata o ciclista – esse intrometido. Em sua pressa mata também o pedestre – pobre, tolo, tonto, desavisado – no meio do caminho de quem pode mais.

 
Prá que tanta força? Prá que tanta pressa? Que liberdade é essa motorista amigo?

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