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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Fim do mundo:

 Mais que apenas um calendário. Crença no apocalipse se baseia no sistema de marcação do tempo dos maias, mas eles nunca acreditaram no término.


Marcelo Maia: “O fim é uma pretensão humana, porque as pessoas querem se livrar do seu peso”A-A+Uma civilização que acreditava na necessidade de sacrifícios humanos, tida como capaz de prever o futuro simplesmente por sua grande capacidade de observação, acabou interferindo no subconsciente de muita gente mais de 4 mil anos após o seu surgimento. Durante muito tempo, o povo que construiu uma evoluída sociedade no México entre o ano 2000 antes de Cristo (a. C.) e 1519 depois de Cristo (d. C.) passou despercebido, brevemente citado nas aulas de história. Hoje, o sistema de contagem do tempo desenvolvido pelos maias é o responsável pelo surgimento de mais uma lenda em torno do fim do mundo.

Dizem os apocalípticos que o calendário maia acaba amanhã, o que foi interpretado por muitos como sinal de que 21 de dezembro de 2012 seria a data do fim do mundo. Não é a primeira vez que o ser humano agenda o apocalipse, mas possivelmente é a data que mais se popularizou. Assim como das outras vezes, tudo não passa de um mito, espalhado rapidamente graças às novas tecnologias da informação.

O doutor em Arqueologia Alexandre Guida Navarro, especialista na civilização maia, esclarece que esse povo não tinha qualquer preocupação com o fim do mundo. Logo, mitos a esse respeito são criações ocidentais, principalmente entre as religiões cristãs. “Em nenhuma comunidade maia atual essa ‘memória’ do fim do mundo existe. Nenhum maia contemporâneo fala sobre isso. É mais uma evidência de que foi uma criação ocidental para atrair público a temas especulativos, que não contribuem para o entendimento da complexidade que foi a civilização maia.”

Mesmo quem crê que o mundo passa por um período de renovação e transformação reconhece que 21 de dezembro de 2012 não marca o fim. “O fim é uma pretensão humana, porque as pessoas querem se livrar do seu peso”, afirma o santa-cruzense Marcelo Maia, estudioso da cultura que inspirou seu sobrenome. Na sua opinião, os maias previram uma transformação, um salto, exatamente como aconteceu há 26 mil anos com o homo sapiens. Os sinais estariam sendo percebidos com mais clareza desde 1999, segundo as sete profecias atribuídas ao povo mexicano (veja no quadro). Para ele, amanhã marca, sim, o fim, mas não do mundo. Acaba apenas um grande ciclo, cujas transformações ainda levarão um bom tempo para serem concluídas.

Pura matemática

Se hoje as atenções estão voltadas à cultura maia, o responsável é apenas uma das muitas criações desse povo: o calendário. O doutor em Arqueologia Alexandre Guida Navarro explica que ele realmente tem um início e um fim, mas isso não está associado ao apocalipse. Para os maias, o mundo não tinha fim. Ao contrário, permanecia em um estado de constante transformação.

O sistema de contagem do tempo foi criado para facilitar tarefas cotidianas, como controle das safras e cobrança de impostos, e religiosas, como marcar as datas de festas e rituais. Segundo Navarro, os maias tinham vários calendários, mas os principais eram um religioso, o Tzolkin, e um solar, o Haab. O primeiro tinha 13 meses de 20 dias cada, totalizando 260. O segundo era formado por 18 meses de 20 dias, além de um mês de cinco dias, chamado Wayeb, somando os 365 dias do ano.

Os dois calendários funcionam em conjunto, como uma engrenagem. Por isso, cada dia só volta a se repetir após 52 anos, dando origem a um novo calendário. “Quando uma Roda Calendárica terminava, os maias faziam sobretudo rituais associados ao derramamento de sangue, com os sacrifícios. O sangue é o líquido vital, com ele os deuses construíram os seres vivos e parte do universo. Dentro desse contexto, garantia a continuidade da vida no planeta”, explica Navarro.

Apesar de o fim do ciclo representar renovação, a crença de que o mundo acaba amanhã surgiu por mera questão matemática. Segundo Navarro, a numeração máxima do calendário maia tem uma unidade de contagem chamada Baktun, de 144 mil dias. Como o calendário tem uma multiplicação máxima de 13 unidades (13 baktuns), a conta se eleva para 1.872.000 dias, ou seja, 5.126 anos. Já que a data inicial do calendário é o ano de 3114 a. C., ele acaba amanhã. Mas nada disso faz qualquer referência ao fim do mundo.

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