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sábado, 6 de junho de 2015

PERNAMBUCO - CHUVAS E ETERNOS PROBLEMAS

06/06/2015 08h55 - Atualizado em 06/06/2015 08h57

Com chuva no Recife, moradores de áreas de risco temem deslizamentos

Medo de desmoronamentos tira sossego de famílias que vivem em morros.
Prefeitura diz que está investindo R$ 152,2 milhões para evitar acidentes.

Penélope Araújo
Do G1 PE
Moradora do Córrego do Jenipapo, na Zona Norte, a dona de casa Lourdes Macedo diz que, quando chove, não consegue dormir temendo um acidente (Foto: Penélope Araújo/G1)

Moradora do Córrego do Jenipapo, na Zona Norte, a dona de casa Lourdes Macedo diz que, quando chove, não consegue dormir temendo um acidente na barreira (Foto: Penélope Araújo/G1)
O período chuvoso no Recife ocorre normalmente de abril a julho, segundo a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac). No entanto, este ano, o volume de precipitações está abaixo da média – e a previsão é que permaneça assim até o início de agosto. Mas quem mora em locais de risco da capital acende o alerta a qualquer sinal de chuva no céu. O medo de deslizamentos de barreiras e desmoronamentos em áreas de morro não dá sossego para os moradores.
“Quando chove, eu nem consigo dormir, de tão preocupada", conta a dona de casa Lourdes Macedo, 60 anos, que mora no Córrego do Jenipapo, Zona Norte do Recife, há 40 anos. A casa dela está situada em um dos pontos de risco nos quais a Prefeitura do Recife prevê obras como construção de escadarias, muro de arrimo e contenção de encostas.
Foi uma zoada grande. Eu estava dormindo e me acordei no susto. Tive de construir de novo"
Maria Janeide Andrade, moradora que perdeu parte da casa após desmoronamento
A dona de casa mora no meio da escadaria do Alto Valdemar, nas proximidades da Rua São Valeriano, um dos pontos onde a Empresa de Urbanização do Recife (URB) está atuando na contenção de encostas. Ao todo, conforme o Executivo Municipal, foram investidos mais de R$ 5 milhões na área, com obras realizadas em dez ruas, além da São Valeriano. O quintal da moradora recebeu uma lona colocada pela prefeitura. Para completar o serviço, ela mandou colocar tijolos para evitar que a água da chuva escorra pela barreira. “É perigoso, aqui em cima tem crianças, na casa ali embaixo também”, diz.
A doméstica Miriam Alves, 43, vizinha de Dona Lourdes, relata que faz parte do Conselho dos Moradores do bairro. Segundo ela, a solução para a região é construir muros de arrimo, mas o poder municipal continua apenas trocando as lonas das barreiras. “A Prefeitura já veio, olhou, mediu, tá colocando as lonas. Mas isso só não resolve”.
Quem também reivindica a construção de muros de arrimo para proteger o imóvel é a professora Maria Janeide Andrade, 57. Ela mora na Rua Agrolândia, perto da subida do Alto do Refúgio, há sete anos. A casa dela fica entre duas barreiras e, em 2010, após uma noite de chuvas, uma delas desmoronou, levando junto a área de serviço da residência de Janeide. “Foi uma zoada tão grande. Eu estava dormindo e me acordei no susto. Tive de construir de novo”.
 
A professora Maria Janeide diz que a lona plástica não é suficiente para proteger a barreira (Foto: Penélope Araújo/G1)

A professora Maria Janeide diz que a lona plástica não é suficiente para proteger a barreira (Foto: Penélope Araújo/G1)
Janeide acrescenta que a vizinhança tem medo de dias chuvosos e que a lona plástica não é suficiente para proteger a comunidade de possíveis acidentes. “Faz duas semanas que colocaram e elas já estão rasgadas. Já é a quarta que colocam aqui. O que ia funcionar mesmo era fazer a barreira de alvenaria”, cobra.
Procurada pela reportagem, a prefeitura informou que a subida do Alto do Refúgio está entre os pontos de risco que estão recebendo obras, assim como os bairros do Ibura e Jordão Baixo, na Zona Sul do Recife, onde as intervenções já foram concluídas.
Maria Janeide afirma que é preciso construir um muro de arrimo para proteger o imóvel e a vizinhança de possíveis acidentes (Foto: Penélope Araújo/G1)
Maria Janeide afirma que é preciso construir um muro de
arrimo para proteger o imóvel e a vizinhança de possíveis
acidentes (Foto: Penélope Araújo/G1)
Os pontos de risco da cidade também vêm sendo visitados pela Defesa Civildesde 2013, garante o Executivo Municipal. As ações preventivas fazem parte da Operação Inverno, que ainda prevê vistorias técnicas e orientações para moradores de áreas de risco. A URB informou também que realiza um levantamento frequente nesses pontos a fim de avaliar a necessidade de novas intervenções. Após essas avaliações, as localidades são inseridas em uma lista de prioridades.
O poder municipal ressaltou que estão previstos projetos para 104 locais de risco na cidade, realizados pela URB com recursos da prefeitura e do Governo Federal, num total de R$ 152,2 milhões. Até o momento, 20 pontos de risco estão com obras em execução, outros sete já tiveram obras concluídas e as demais intervenções devem ser concluídas até dezembro.
Pontos de alagamento
O problema é antigo. Basta uma noite de chuva para que os alagamentos tomem conta de várias ruas e avenidas do Recife. Na Zona Oeste da cidade, a Avenida Doutor José Rufino é exemplo disso. Na Zona Sul, outro ponto de alagamento é a Rua Professor Eduardo Wanderley Filho, em Boa Viagem. Ao se candidatar ao cargo de prefeito do Recife, o atual gestor da cidade, Geraldo Julio (PSB), prometeu erradicar 32 pontos crônicos de alagamentos no município. Parte das obras foi feita, mas a população ainda reclama do mesmo problema.

De acordo com a prefeitura, a Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) tem realizado obras de erradicação de pontos de alagamento. Quase R$ 7 milhões foram investidos em 15 pontos da cidade desde 2013. A Rua Visconde de São Leopoldo, em frente à reitoria da Universidade Federal de Pernambuco(UFPE), na Zona Oeste do Recife, faz parte da lista.
Funcionário de uma oficina no trecho que costumava alagar na Zona Oeste, José Francisco de Lima conta que a situação melhorou bastante. “Essa parte da rua alagava muito, a tubulação daqui às vezes dava retorno, ficava tudo sujo, o acesso era muito ruim. Depois que a obra acabou já choveu e não alagou”.
    Trechos da Avenida Acadêmico Hélio Ramos continuam alagando, apesar de intervenções na área (Foto: Penélope Araújo/G1)

  • Trechos da Avenida Acadêmico Hélio Ramos continuam alagando, apesar de intervenções na área (Foto: Penélope Araújo/G1)
Já no outro extremo da UFPE, na Avenida Acadêmico Hélio Ramos, cujas obras também foram concluídas, há muita reclamação. As intervenções foram feitas ao longo da avenida, mas não contemplaram um trecho que compreende uma parada de ônibus e um ponto de táxi.
“A Prefeitura recuperou as placas de concreto na rua, mas só esse pedacinho da faixa ficou de fora. A gente perguntou e o mestre de obras que estava aqui disse que o orçamento não incluía essa faixa”, diz o taxista Isavan Monteiro. A estudante Ana Paula da Silva, que costuma esperar pelo ônibus no local, também reclamou. “Quando chove, fica tudo alagado aqui na parada, as pessoas se abrigam na calçada, tem que passar pela água para subir no ônibus. É uma confusão”, confirma.
De acordo com o Executivo Municipal, outras ruas, como Cosmorama, em Boa Viagem; Princesa Isabel, em Santo Amaro; e Guedes Pereira, em Casa Amarela, também foram reestruturadas. Além dos 15 pontos que já passaram por obras, outros 17 que costumam alagar no período chuvoso devem receber o investimento e serem erradicados até 2016. As intervenções são feitas em vias com problemas na rede de drenagem ou obstrução nas tubulações.
Entorno da BR-101, na Zona Oeste da capital, tem pontos crônicos de alagamento (Foto: Penélope Araújo/G1)

Entorno da BR-101, na Zona Oeste da capital, tem pontos crônicos de alagamento. O já congestionado trânsito da área fica ainda pior quando chove na região (Foto: Penélope Araújo/G1)

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