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domingo, 21 de setembro de 2014

PMs são denunciados à Justiça por operação que acabou em morte

Com base em perícias e testemunhas, investigação apontou falhas operacionais dos soldados. Jorge Cavalcanti

Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem
A perseguição e a abordagem de duas viaturas que culminaram na morte do vendedor de automóvel Adriano Ramos, 26 anos, na noite de 13 de abril deste ano, no Recife, foram marcadas por falhas operacionais. Dois dos quatro policiais militares envolvidos na ação ignoraram princípios básicos ensinados durante o curso de formação, como o uso progressivo da força e o disparo de arma de fogo como último e inevitável recurso. Por isso, os soldados José Tiago Martins Souza e Diego Fernando Silva de Lima foram denunciados à Justiça pelo Ministério Público estadual por homicídio qualificado, sem chance de defesa para a vítima. Ambos são do 13º Batalhão e estão afastados das ruas desde o incidente. Com base no relato de testemunhas e perícias do Instituto de Criminalística, a investigação da Polícia Civil concluiu ainda que os PMs violaram a cena do crime.

Por volta das 21h, depois de festejar seu aniversário num bar da Zona Norte do Recife quatro dias após a data, Adriano Ramos seguiu sozinho em seu carro, modelo Gol, em direção ao bairro da Estância, Zona Oeste, onde morava com os pais. Ela havia consumido bebida alcoólica e trafegava em alta velocidade, despertando a suspeita do soldado Fernando, como um dos indiciados é chamado na corporação, na viatura da Patrulha do Bairro da Madalena. Pelo rádio, foi pedido reforço à viatura do soldado Souza, da Patrulha do Bairro, que estava no bairro de Afogados, onde Adriano Ramos foi morto.

Das 11 pessoas ouvidas como testemunhas, incluindo os dois PMs que participaram da ação mas não foram responsabilizados, duas são homens e presenciaram a caçada e a abordagem. O relato deles desmente a versão apresentada pelos soldados indiciados. O JC manterá os nomes em sigilo. O primeiro trafegava sozinho em seu veículo pela Rua São Miguel e disse que os tiros só foram efetuados depois da perseguição, quando Adriano Ramos perdeu o controle do carro e bateu contra um poste. “A testemunha só viu os policiais mandarem a vítima sair do veículo após terem executado os disparos”, frisou o delegado Ivaldo Pereira, da 4ª Delegacia de Homicídio e responsável pelo caso. 

A testemunha só viu os policiais mandarem a vítima sair do veículo após terem executado os disparos
frisou o delegado Ivaldo Pereira.

Com o fogo aberto pelos policiais, a vítima não teve chance de defesa e foi alvejada por tiros de pistola ponto 40. Morreu dentro do Gol. Dos dez disparos, seis atingiram o vidro do motorista e outro transfixou a porta, numa altura acima da maçaneta. Ainda de acordo com a primeira testemunha, quando a ambulância do Samu chegou, o corpo da vítima já estava ao lado do veículo, retirado pelos policiais. Um taxista também viu o desfecho da perseguição. E contou que, após a remoção do corpo, os soldados revistaram o Gol, mas nada de suspeito ou ilícito foi encontrado.

O JC enviou o inquérito a dois policiais – um tenente-coronel da PM e o outro delegado especial da PF. Ambos afirmaram que a operação evidenciou excesso e imperícia dos dois soldados indiciados. O Gol crivado de bala, com sete dos dez disparos efetuados, atingindo a parte superior da linha da cintura da vítima, é uma forte evidência das falhas da ação, alegaram os dois consultados.

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