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domingo, 30 de abril de 2017

PSB dividido sobre seu perfil socialista e em luta por poder interno

Após a morte de Eduardo Campos, racha no partido ficou mais evidente
Eduardo Campos morreu em 2014 e de lá para cá o racha no PSB se intensificou
Alexandre Gondim/JC Imagem

Quando Eduardo Campos morreu em um acidente aéreo em 2014, uma das perguntas feitas à época, entre tantos questionamentos que o falecimento do pernambucano gerou, foi sobre qual seria o rumo do PSB no Estado e nacionalmente. Dois anos e meio após a queda do jatinho que levava o ex-governador, o que se vê é um partido rachado. A tensão é provocada por divergências ideológicas entre os socialistas e aumentou nas últimas semanas devido ao posicionamento distinto sobre as reformas Trabalhista e da Previdência. A eleição para a escolha da nova Executiva nacional em outubro também tem tornado o clima mais acirrado.

Substituto de Eduardo na presidência do PSB, Carlos Siqueira tem dado mostras de que quer reposicionar o partido politicamente. Embora tenha sido favorável ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e seja crítico da administração petista, o dirigente parece não estar satisfeito com os rumos da legenda ultimamente.

Em 2014, o PSB apoiou Aécio Neves (PSDB-MG) para a Presidência da República após Marina Silva (à época no PSB e hoje na Rede) ficar de fora do segundo turno contra Dilma. Tucanos e socialistas vêm estreitando os laços desde então. Fora isso, o PSB apoiou o impeachment de Dilma e se aproximou ainda mais dos partidos de centro-direita. Agora, uma ala sinaliza que quer voltar às origens.

Em um discurso para prefeitos socialistas na semana passada, Siqueira afirmou que era importante não perder o rumo.

“Tenho sido muito procurado. A CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e movimentos sindicais e populares e dizem assim: ‘eu não estou entendendo o que está acontecendo com o PSB’. Vamos ser sinceros. Eu tenho que dizer isso a vocês. Não estou entendendo como todos nós agora estamos ao lado da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo). Não podemos. Pergunto, como dizia aquele filme. O que é isso, companheiro? Para onde nós vamos?”, afirmou.

Entre os deputados federais do PSB em Pernambuco, Danilo Cabral e Tadeu Alencar afirmaram que o fato da Executiva nacional do partido ter fechado questão contra as reformas da Previdência e Trabalhista indica que os socialistas têm se reaproximado de sua base e da esquerda.

Do outro lado, o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB), mais próximo ao governo Michel Temer (PMDB), tem apoiado as reformas apresentadas pela gestão peemedebista. O pernambucano já avisou que vai apoiar o vice-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), na disputa pela presidência do partido. A queda de braço com Carlos Siqueira pode valer mais do que o comando da Executiva nacional e significar de qual lado os socialistas estarão no futuro.

PRAGMATISMO AFETOU O PSB

O ex-governador Eduardo Campos é sempre mencionado como uma referência no PSB e ninguém tem coragem de criticar a sua herança. Porém, em reserva, alguns socialistas afirmam que a divisão vista hoje no partido é resultado de uma ação de Eduardo lá atrás, quando chamou para o grupo socialista políticos com um perfil de centro-direita.

A leitura é de que Eduardo foi pragmático porque precisaria de palanques para reforçar o seu nome na disputa presidencial de 2014. Porém, com o seu desaparecimento, esses neo-socialistas agora estariam sem controle. 
Questionado se Eduardo ajudou no processo de inchar o PSB, o presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, diz que não há razão para culpar o pernambucano. 
“Eduardo foi um dos grandes baluartes do crescimento do partido. Naturalmente, que quando um partido cresce, se não houver um cuidado, ele pode entrar em um grau de deformação que às vezes não tem retorno. Mas temos que ter essa vigilância. Não tenho nenhum reparo à conduta de Eduardo. Foi um grande construtor do partido. Ele certamente teria a mesma vigilância”, afirmou.

Para Carlos Siqueira, o problema do PSB não foi a parceria com o PSDB ou a defesa da saída de Dilma Rousseff (PT) da Presidência. Ele diz que a hora de mostrar a vocação de esquerda do partido ocorre agora com a votação das reformas da Previdência e Trabalhista.

“Há coisas que a gente compreende, que são circunstanciais, como uma aliança mais ao centro, como se fez com o PSDB no plano nacional, e como o impeachment, mas nada disso são questões de princípios. Mas quando se trata de direitos sociais e trabalhistas, isso está no cerne da ideologia e visão programática do partido. O PSB não pode incorrer no erro gravíssimo de rasgar a sua história. É importante lembrar aos que estão há pouco tempo no PSB que eles entraram em um partido que não abriu mão dos princípios e nunca abrirá. Não estamos em um ônibus que não sabe para onde vai porque cada um salta para um lado. Não somos um ajuntamento de pessoas. Somos um partido”, disse.

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