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quarta-feira, 22 de junho de 2016



Nem os cadáveres são poupados 

Coluna da quarta-feira

Postado por Magno Martins às 06:00

Sobre a operação da Polícia Federal ontem em Pernambuco transcrevo abaixo a análise de Josias de Souza, blogueiro do Vol. “Num cenário em que ninguém está imune às investigações, imaginou-se que as três condições essenciais para alcançar a glória política no Brasil eram: morrer moço, morrer por uma causa perdida e ter um cadáver bonito. Isso já não basta. Eduardo Campos, enterrado como uma espécie de mártir fotogênico, acaba de ser ressuscitado numa nova operação da Polícia Federal.

Deflagrada nesta terça-feira, a Operação Turbulência apura um esquemão de lavagem de dinheiro que movimentou algo como R$ 600 milhões no eixo Pernambuco—Goiás. A polícia chegou à quadrilha ao escarafunchar a propriedade do jato que caiu em Santos na campanha presidencial de 2014. Suprema ironia: o desastre que tirou a vida de Campos levou ao desastre que pode ceifar-lhe postumamente a reputação.

A PF suspeita que o ex-ministro e senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), já investigado na Lava Jato, tenha feito a intermediação entre a quadrilha e as arcas eleitorais de Eduardo Campos. Além da compra do avião, os desvios teriam bancado as campanhas do ex-governador de Pernambuco em 2010 e 2014.

Surgidas logo depois do acidente fatal, ainda em meio às lágrimas, as informações sobre a propriedade do jato que transportava Campos não cheiravam bem. Agora, diante do monturo apresentado pelos investigadores, o PSB, partido de Campos, divulgou uma nota inodora.

A legenda diz ter “plena confiança na conduta do nosso querido e saudoso Eduardo Campos”. Acrescenta que “apoia a apuração das investigações e reafirma a certeza de que, ao final, não restarão quaisquer dúvidas de que a campanha de Eduardo Campos não cometeu nenhum ato ilícito”. “Ora, considerando-se a origem da verba que bancou a compra do avião, já está demonstrado que a campanha, no mínimo, voava nas asas do ilícito”.

LARANJAS– Da delegada Andrea Pinho, da Polícia Federal, em entrevista, ontem, no Recife, para explicar as prisões de empresários que seriam os donos do avião de campanha de Eduardo Campos, que caiu em Santos matando o socialista e todos os passageiros e tripulantes: “Essas empresas transitavam entre si e realizavam movimentações milionárias, na conta de outras empresas igualmente de fachada e na conta de outros 'laranjas'. Elas integravam uma organização criminosa especializada em lavagem de dinheiro, que vem desde 2010 e que decaiu após a queda do avião".

Com pinta de pop-star– Ao regressar do primeiro giro ao Sertão após a sua saída do Ministério do Desenvolvimento, o senador Armando Monteiro (PTB) revelou ter ficado impressionado com a popularidade do deputado Silvio Costa (PCdoB), ex-líder do Governo Dilma, que o acompanhou em seis municípios. “As pessoas o identificam como o grande defensor de Dilma. Por onde ele passava, era confundido com uma celebridade, um verdadeiro pop-star”, disse.

Financiado pela OAS- Por meio do compartilhamento de provas obtidas através da Operação Lava Jato, os agentes da Operação Turbulência suspeitam que a empreiteira OAS possa ter transferido até R$ 18 milhões para o esquema que funcionava por meio de empresas de fachada para financiar a campanha de Eduardo Campos à Presidência da República. Os recursos teriam sido transferidos para a empresa de fachada Câmara e Vasconcelos Locação e Terraplanagem. Segundo a OAS, o dinheiro seria destinado à realização de obras de terraplanagem da Transposição do Rio São Francisco.

Capital estrangeiro- A Câmara dos Deputados aprovou, ontem, uma medida provisória que retira qualquer restrição para que estrangeiros possam assumir cargos de direção e o controle acionário de empresas aéreas brasileiras. Na prática, companhias estrangeiras poderão deter 100% das ações. Os deputados ainda analisam destaques que poderão alterar o teor do texto. A proposta segue depois para análise do Senado. O texto original, enviado pelo Executivo ao Legislativo no final de fevereiro, antes do afastamento da presidente Dilma Rousseff, previa que o teto máximo de capital estrangeiro com direito a voto nas empresas aéreas nacionais subiria de 20% para 49%.

A defesa de FBC- Tão logo teve seu nome citado, ontem, pela delegada Andrea Pinho, da Polícia Federal, como parte do que foi apurado na operação Turbulência, o senador Fernando Bezerra Coelho disse estranhar as ilações pelo fato de sequer ser mencionado nos autos da investigação. Ressaltou que não era coordenador da campanha de Eduardo Campos a governador em 2014 nem tampouco à Presidência da República, em 2014. Quanto à investigação que tramita no STF, ratifica que sempre esteve à disposição para colaborar com os ritos processuais e fornecer todas as informações que lhe foram e, porventura, venham a ser demandadas. O senador reitera, ainda, que mantém a confiança no trabalho das autoridades que conduzem o processo investigatório no STF, acreditando no pleno esclarecimento dos fatos.

CURTAS

MAIS ÁGUA– Sete municípios serão beneficiados por uma obra estruturadora para melhoria do abastecimento de água, através da Adutora do Moxotó, empreendimento hídrico no valor de R$ 85 milhões que vai atender 325 mil pessoas de Arcoverde, no Sertão, e Pesqueira, Alagoinha, Sanharó, Belo Jardim, Tacaimbó e São Bento do Una, no Agreste. A primeira etapa do projeto, orçada em R$ 40 milhões, já está sendo licitada.

LIVRO- Experiente na cobertura da Política em Brasília, o repórter da TV Globo Vladimir Netto lança o livro-reportagem Lava Jato – O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil. Na obra, Netto – que acompanha a operação desde o seu início, em março de 2014 – vai pouco a pouco revelando os principais desdobramentos que expuseram o maior escândalo de corrupção do País.

Perguntar não ofende: Quais desdobramentos a operação Turbulência provocarão nas eleições municipais?

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