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sábado, 15 de outubro de 2016


Dinheiro do esquema revelado pela Polícia Civil seria utilizado para financiar a campanha de vereadores do município de Jaboatão dos Guararapes
Polícia Civil aprende material durante operação Caixa de Pandora Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco
Por Márcio Didier Editor do Blog da Folha

O esquema revelado pela Operação Caixa de Pandora, deflagrada pela Polícia Civil nesta sexta-feira (14), em Jaboatão dos Guararapes, começou a ser desmontado a partir da denúncia do ex-secretário-geral da Câmara Municipal José Coelho Pereira Neto e reforçado com o depoimento-chave do ex-procurador-geral da Casa Paulo Thiago Bezerra Ribeiro Varejão. Segundo eles, o esquema movimentava R$ 70 mil por mês para cada um deles, a partir do uso indevido da folha de pagamento. O dinheiro seria utilizado para financiar a campanha dos envolvidos.

Em seu depoimento, prestado em 9 de junho deste ano, ao que o Blog da Folha teve acesso, Varejão reafirmou as informações de que cinco, dos sete vereadores da mesa diretora da Câmara, montaram o esquema. Durante as investigações, a Polícia Civil ampliou esse número para os 19 que sofreram busca e apreensão nesta sexta-feira (14).

Segundo ele, participavam da articulação Josivaldo Rufino dos Santos (Vado Jogador), Eurico da Silva Moura (Eurico Moura), Janeton José Basílio (Tonzinho Basílio), Reinival Sampaio Dourado (Sargento Sampaio), Samoel Gomes da Silva (Samoel da Sorveteria), Charles Darks Rodrigues de Aguiar (Charles Motorista). Um detalhe: o esquema montado para uso eleitoral não deu muito certo para eles. Dos cinco, apenas Charles Motorista se elegeu.

No depoimento, o ex-procurador-geral afirmou que os vereadores exigiam que os comissionados, em sua maioria, repassassem o auxílio-alimentação, a maior parte do salário, adicional de férias e outras verbas.

Afirmando acreditar que Eurico Moura liderava o grupo, Varejão acrescentou que 90% dos comissionados não comparecem regularmente à Câmara. “Os vereadores apresentam justificativa de que os mesmos estão em trabalho externo. Não existe espaço suficiente para que todos os comissionados compareçam ao expediente normal”, diz o ex-procurador da Casa.

Entre as denúncias feitas por Varejão, o esquema montado pelos vereadores chegou ao ponto de tirarem do presidente da Casa à época, Jailton Batista Cavalcanti – que não compactuava com o esquema –, o poder de ordenador de despesas, para que o processo prosseguisse. 

Com a exoneração publicada em 1º de junho último, o ex-procurador afirmou que os cinco vereadores não articulavam troca de servidores de função com objetivo de obter “o máximo de recursos com a prática ilícita”. Como exemplo, cita em seu depoimento, o reajuste do auxílio-alimentação de R$ 700 para R$ 1.500. No entanto, apenas os comissionados recebiam tal benefício. Os servidores efetivos não tinham direito ao auxílio.

O esquema começou a ruir quando o Tribunal de Contas do Estado requisitou, por meio de ofício, os pareceres sobre as férias indenizadas de uma grande parte dos comissionados exonerados em dezembro.

Varejão afirmou que foi chamado para uma reunião, em 18 de maio deste ano, para discutir a falta do parecer. No encontro, ficou acertado que seriam falsificados requerimentos de férias indenizadas dos servidores e o procurador teria que assinar os pareceres com data falsa para tentar validar perante o TCE os pagamentos. Caso discordasse, a pena seria a exoneração do cargo.

Após ter o seu auxílio-alimentação cortado e cobrar uma providência, Paulo Thiago Bezerra Ribeiro Varejão foi exonerado em 1º de junho passado. Oito dias depois ele prestou o seu depoimento.

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