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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Túneis em presídios de PE são feitos nos fins de semana, diz agente

Detentos cavam buracos onde são armadas tendas para visitas.
Neste ano, 12 túneis foram descobertos no Complexo Prisional do Curado. Do G1 PE
Os detentos do Complexo Prisional do Curado, no Recife, cavam túneis durante os fins de semana, dentro de barracas montadas para receber visitas. A explicação foi dada por um homem que trabalha na segurança do sistema penitenciário e não quis se identificar. Nos últimos três meses, doze túneis foram descobertos no local, que fica na Zona Oeste do Recife. O último deles foi encontrado no sábado (17), no presídio Frei Damião de Bozzano.

De acordo com o rapaz, aos domingos, dia de visitas, os presídios ficam cheios de parentes de detentos. As visitas são feitas no pátio das unidades, em barracas armadas pelos próprios detentos. Eles começam a montagem das tendas ainda na sexta-feira e só desarmam quando o horário de visitas termina.

"É pela falta de espaço físico dentro dos pavilhões durante a visita. Os presos vão para a área coletiva, na área externa dos pavilhões e, para ter um pouco de privacidade com seus visitantes, eles constroem as barracas lá, com lençois e madeira", explica o homem.

Ainda segundo ele, enquanto os visitantes estão dentro das unidades, os agentes ficam fora. "Em dia de visita é que o agente penitenciário não tem acesso aos pavilhões. A falta de efetivo faz com que o pouco que tem fique empregado na entrada da visita e na revista do material que entra na unidade", aponta.

Segundo os agentes, é nesse momento que os túneis são escavados. "No sábado pela manhã eles começam a cavar e continuam até o domingo. Quando acaba a visita, eles pegam a terra, que vai sendo colocada em sacos plásticos, e colocam de volta nos buracos", afirma ainda o agente.

A maioria dos túneis foi encontrada no presídio Frei Damião de Bozzano, que faz parte do Complexo do Curado. De acordo com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, nenhum dos túneis chegou a ser concluído. Apenas no primeiro episódio, em julho, os detentos conseguiram escapar.

De acordo com a Secretaria de Justiça de Direitos Humanos, as revistas na área interna dos presídios vêm sendo reforçadas, assim como as rondas da área externa, feitas pela Polícia Militar. A secretaria reconheceu a existência das barracas para os encontros íntimos, mas garantiu que o número de tendas é limitado, informando ainda que são feitas revistas nos locais onde elas são montadas.

A pasta explicou ainda que o número de túneis encontrados é resultado do aumento da fiscalização. Alguns detentos envolvidos na construção dos túneis já foram identificados e vão responder ao Conselho Disciplinar. A secretaria pontuou ainda que 126 novos agentes foram convocados, neste ano, para reforçar a segurança nas unidades e que alambrados foram colocados na muralha e no entorno da área externa. Além disso, uma central de videomonitoramento e novos equipamentos de segurança já estão funcionando.

Crise prisional
No dia 8 de outubro, foi encontrado o primeiro túnel externo, com dois metros de profundidade e um metro de extensão, saindo de uma casa em direção ao Presídio Frei Damião de Bozzano (PFDB). Os últimos buracos dentro do complexo foram achados no dia 10 de outubro. Antes disso, a Seres divulgou que achou túneis nos dias 6 de outubro, 24 de setembro, 21 de setembro, 6 de setembro, 22 de agosto, 12 de agosto, 10 de agosto, 2 de agosto, e 27 de julho.

Nos últimos meses, a rotina foi de presos mortos e feridos, armas e celulares flagrados nas mãos de detentos, planos de fuga, brigas, rebeliões e protestos. Em setembro, representantes do governo estadual e federal estiveram na Costa Rica para dar explicações à Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre violações de direitos humanos no Complexo Prisional do Curado, que resultaram em uma nova resolução da corte internacional sobre o tema.

Nos últimos meses, a unidade registrou série de rebeliões que deixou mortos e feridos. No dia 27 de setembro, um morador da vizinhança foi morto por uma bala perdida, em meio a um tumulto numa das unidades do conjunto do Curado.

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