Delfim: assessor econômico de maior peso da equipe de Michel Temer, ex-ministro, adianta como deverão ser os primeiros passos para o enfrentamento da crise; mexer no reajuste do salário mínimo e na previdência social; combinou com os trabalhadores?
Delfim faz propostas a Temer que põem em risco direitos sociais
Segundo Delfim Netto o vice-presidente Michel Temer saberá tirar o País do cenário de profunda recessão e grave crise fiscal.
Mas defende que, para isso, ele terá que mexer em direitos conquistados adotando, por exemplo, idade mínima na Previdência, o fim da atual regra de reajuste do salário mínimo e o predomínio do negociado sobre o legislado nas negociações entre empregadores e trabalhadores.
Leias trechos da entrevista:
O impeachment da presidente Dilma Rousseff será aprovado pelo Senado?
Pelo andar da carruagem, sim. Provavelmente, o Senado fará um relatório que vai confirmar o da Câmara, depois vai ter um julgamento e então termina o governo. Haverá um interregno de três semanas e eu acho que precisaria ser reduzida ao mínimo possível porque o País precisa de governo. Mas a coisa está tão ruim que eu acho que sem governo melhora.
O que esperar de Michel Temer?
É uma situação extremamente dramática e confusa. Agora, o que eu espero de Temer é uma coisa diferente. Ele é um cidadão preparado que tem uma oportunidade maravilhosa de alçar da posição de um simples político para a de um estadista. Dois anos é tempo suficiente para plantar carvalho em vez de couve. Acho que ele vai saber aproveitar essa chance, mas precisa primeiro devolver à sociedade a confiança, a esperança, a certeza que sempre teve que o País pode crescer.
Como?
Simplesmente dizendo à sociedade o que vai fazer. Uma das coisas mais importantes do Plano Real, que nunca terminou, foi ter dito com clareza tudo que iria ser feito. É preciso explicar à sociedade quais são os seus problemas, porque chegamos onde chegamos e como vamos corrigir isso. O que precisa ser restabelecido é a confiança no futuro, que o Brasil vai voltar a crescer.
Quais são as correções necessárias?
São quatro ou cinco medidas que vão mostrar à sociedade que não vai se tirar nada de ninguém. É preciso uma Previdência mínima para todos. Existe um problema central que é a idade mínima. Quando a Previdência foi estabelecida no Brasil, a expectativa de vida ao nascer era de 45 anos e hoje é de 75 anos. Então, a idade mínima terá de ficar mais próxima da atual expectativa de vida. Também é muito importante desvincular a correção do benefício da Previdência da variação do salário mínimo. E a regra do aumento do mínimo deveria assegurar a correção da inflação e mais nada.
Como o sr. vê a necessidade de desvinculações do Orçamento?
Talvez seja o aspecto de curto prazo mais importante. É preciso uma DRU (desvinculação receitas da União) mais forte, para dar um pouco mais de flexibilidade à administração federal. Outro elemento muito relevante é estabelecer teto de gastos do governo. E merece grande destaque que o negociado entre empresários e trabalhadores prevaleça sobre o legislado.
Os programas sociais deveriam ser reavaliados?
Os programas sociais não vão ser atacados. O que precisa atacar é o parasitismo. Outra questão é criar uma força-tarefa para analisar cada programa que está no Orçamento de 2016 para saber se merece estar no Orçamento de 2017.
Será possível formar uma coalizão política no Congresso ampla o suficiente para aprovar essas medidas fiscais?
Quem foi contra o impeachment? É o resíduo do pensamento mágico daqueles que acham que podem mudar o mundo com conversa mole. O PT, o PCdoB e um pedaço do PDT. É um grupo de pessoas respeitáveis que têm seus interesses e construíram também seus privilégios.
Temer precisará explicar propostas na área fiscal assim que assumir o governo para dar um choque de credibilidade?
Quem tem de decidir isso é o Temer. Ele é que vai carregar o Pão de Açúcar e saberá o que precisará para colocar embaixo dele. Eu gostaria de destacar o seguinte: eu não tenho nenhuma influência no novo governo.
Mas o sr. Conversa frequentemente com Temer. E suas ideias ajudaram a formar pontos centrais do programa do PMDB “Uma Ponte para o Futuro”.
Eu converso com ele porque é meu amigo. Mas eu também converso com você (risos).
Quais seriam os melhores nomes para assumir o Ministério da Fazenda e o Banco Central no governo Temer?
Temer fará as escolhas de seu ministério no momento mais adequado.
O presidencialismo de coalizão da presidente Dilma não funcionou. Por que o de Temer poderá dar certo?
O presidencialismo de coalizão só dá certo se tiver presidente e coalizão.
E Temer teria condições para viabilizá-lo?
Evidente, pela sua experiência, habilidade política e por causa da situação do País.
O PSDB defende que Temer não seja candidato a presidente em 2018. Ele deveria deixar claro que não vai concorrer àquelas eleições?
Claro. Se não disser desde o início, crivelmente, que não é candidato, todo o apoio político que está aí morre. Cada sujeito que ajudar o Temer é para ajudar a si próprio. Para plantar carvalho, para ter o suporte político que precisa e fazer as correções importantes, ele tem de garantir que não será o beneficiário delas.
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