.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Morre Luiz Paulo Conde, ex-prefeito do Rio
Ele estava internado com câncer no Hospital Samaritano, em Botafogo
POR O GLOBO
Luiz Paulo Conde, então prefeito do Rio, na Lagoa Rodrigo de Freitas - O Globo / Gustavo Stephan (22/12/2000)

RIO - Em 1997, quando assumiu a prefeitura do Rio, o arquiteto Luiz Paulo Conde não escondia um sonho que dividia com muitos cariocas: ver a cidade sediar os Jogos Olímpicos de 2004. Na época, o Rio de Janeiro não foi escolhido nem entre as finalistas para disputar o direito de receber as Olimpíadas, mas, dizem os amigos, Conde acreditou até o último minuto que a beleza natural e as recentes transformações urbanísticas da cidade maravilhosa poderiam virar o jogo. E ajudou a lançar entre os moradores e apaixonados pela cidade um clima de otimismo que serviu de base para a recandidatura vitoriosa. Ex-prefeito do Rio, Luiz Paulo Conde morreu na madrugada desta terça-feira, aos 80 anos.

— Ele era um apaixonado pela arquitetura e pelo Rio. E não media esforços por estas duas paixões. Acreditava que a cidade podia ser melhor, sempre — resume o arquiteto Sergio Magalhães, presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), amigo de longa data do ex-prefeito,

Luiz Paulo Conde estava internado há um ano no Hospital Samaritano, em Botafogo, para tratamento de um câncer na próstata. Há sete anos, lutava contra a doença. Ele era casado com Rizza Conde, que conheceu durante o curso de Arquitetura, e deixa três filhos e dez netos. O prefeito Eduardo Paes decretou luto oficial de três dias na cidade pela morte do ex-prefeito. O velório será realizado no Palácio da Cidade a partir desta terça-feira, às 18h. Na quarta, às 11h30m, haverá uma missa de corpo presente. Em seguida, o corpo segue para o Cemitério São João Batista, onde será sepultado.

Com uma carreira consolidada e premiada na Arquitetura, Luiz Paulo Conde entrou tarde na política. Aos 60 anos, assumiu a Secretaria municipal de Urbanismo, no primeiro governo de Cesar Maia (1993-1997), e recebeu a missão de comandar o projeto do Rio Cidade, que promoveu diversas intervenções urbanas nas vias mais importantes dos principais bairros cariocas. Foi uma espécie de super secretário, encarregado de comandar todas as obras da cidade.

Por causa de ruas esburacadas, desapropriações e transtornos no trânsito, ouviu muitas críticas. Para ele, as reclamações tinham como pano de fundo o pensamento de quem “se habituou a viver numa situação de falta de civilidade e cultura”. Como urbanista, defendia que as obras estruturais mudariam a cara da cidade no futuro. “O Rio Cidade forma, com a Linha Amarela e a conclusão da ligação Lagoa-Barra, um conjunto de medidas reestruturadoras”.

Ex-simpatizante do PCB, Conde filiou-se ao PFL para suceder Cesar Maia. Mesmo sendo considerado um azarão, foi eleito prefeito no segundo turno derrotando Sergio Cabral Filho, então candidato pelo PSDB.
Conde com sua mulher, Eliza Rizzo, quando ainda era candidato à prefeitura do Rio pelo PFL, em 1996 - Frederico Rozario (18/08/1996 ) / Agência O Globo
Entre 1997 e 2001, concluiu o Rio Cidade, a Linha Amarela e também o Favela-Bairro, projeto que virou uma de suas maiores marcas. Quando prefeito, Conde já sonhava em promover a reconciliação da cidade com a orla do Centro do Rio, e acabou sendo responsável pela primeira grande remodelação da Praça Quinze, área que hoje passa por um processo de revitalização. Na época, convidou arquitetos espanhóis para fazer o projeto do mergulhão.

Em nota, o prefeito Eduardo Paes recordou a participação de Conde nas transformações urbanísticas da cidade.

‘Conde foi um inspirador para realizarmos a grande transformação pela qual o Rio de Janeiro passa’
- PREFEITO EDUARDO PAES.

“O Rio de Janeiro perdeu hoje um grande realizador. Luiz Paulo Conde fez parte de um grupo seleto de cariocas que tiveram o prazer e o orgulho de gerir a nossa Cidade Maravilhosa. Suas mãos ajudaram a projetar importantes transformações como o Rio-Cidade, o Favela-Bairro e a construção da Linha Amarela. Conde foi um inspirador para realizarmos a grande transformação pela qual o Rio de Janeiro passa. Com seu olhar urbanístico, foi um dos primeiros gestores a pensar na revitalização da Região Portuária e na demolição do elevado da perimetral. Arquiteto premiado, Conde tinha orgulho de sua profissão e inspirava-se na arquitetura para executar projetos. Hoje, o Rio está mais triste com sua perda”.

O arquiteto Sergio Magalhães, que trabalhou com Conde em diversos projetos, recorda que o amigo era um idealista.

— Logo no começo da concepção do projeto Rio Cidade, quando ele era secretário de urbanismo e eu de Habitação, Conde nos surpreendeu um dia ao voltar de uma reunião com então prefeito Cesar Maia. Tínhamos conversado em implantar o projeto em três bairros e ele chegou dizendo: ‘Três é pouco, vamos fazer em 15 bairros’. O projeto acabou sendo implantado em cerca de 30 bairros. Para o Conde, não se tratava de fazer uma experiência, mas de provocar uma mudança na cidade — disse Magalhães.


RELEMBRE ALGUNS MOMENTOS DA CARREIRA DE CONDE

Em 1993, durante a posse de Cesar Maia. Conde assumiu a secretaria municipal de Urbanismo e recebeu...Foto: Guilherme Bastos (01/01/1993) / Agência O Globo
Luiz Paulo Conde, então secretário municipal de Urbanismo de Cesar Maia, lança campanha para...Foto: Arquivo O Globo / Agência O Globo
Conde com sua mulher, Eliza Rizzo, quando ainda era candidato à prefeitura do Rio pelo PFL, em 1996Foto: Frederico Rozario (18/08/1996 ) / Agência O Globo


César Maia e Luiz Paulo Conde inauguram o Túnel da Covanca em 1996Foto: Marco Antonio Cavalcanti / Agência O Globo
Antes de tomar posse como prefeito, em 1997, Conde foi expulso do Circo Voador durante um show de...Foto: Arquivo O Globo / Agência O Globo
Cesar Maia e Luiz Paulo Conde brindam a vitória na eleição para prefeito de Conde Foto: Marco Antônio Rezende (15/11/1996) / Agência O Globo
Em 2000, Conde se lança candidato a prefeito e rompe com Cesar Maia, que venceu com 51% do votos,...Foto: Ivo Gonzalez / Agência O Globo
Durante a campanha de 2004 ele mostrou seu caminho para o trabalho. Na foto ele sentado em um ponto...Foto: Marcos Tristão / Agência O Globo
Em 2003, como vice-governador do governo de Rosinha Garotinho, Conde participou do preparativos...Foto: Michel Filho / Agência O Globo

 Em 2004, Conde participa da cerimônia de lançamento da candidatura do Rio para as Olimpíadas de...Foto: Ricardo Leoni / Agência O Globo 1 de 10

Em 1995, o então secretário municipal de Urbanismo foi o primeiro brasileiro a figurar na coleção SomoSur, produzida pela Universidade de Los Andes, na Colômbia, com o objetivo de divulgar na América Latina e na Europa as obras de profissionais latino-americanos de destaque. A edição trazia alguns dos projetos mais famosos do arquiteto, entre eles o do campus da Uerj, no bairro do Maracanã, e o complexo do Alfabarra, na Barra. Quando perguntado sobre o projeto que ele mais amava, Conde respondia: “ As obras que você não criou serão sempre as melhores”.

O arquiteto também foi presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, em 1974, reeleito dois anos depois, e diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ (1990-1992).

Uma das maiores polêmicas de sua carreira política aconteceu em 1996. Amante de ópera, Luiz Paulo Conde resolveu dar uma “passadinha” no Circo Voador, na Lapa, para comemorar a vitória nas eleições e confraternizar com correligionários. Acabou sendo expulso sob fortes vaias e insultos durante uma apresentação da banda punk Ratos de Porão. Três dias após a confusão, o então prefeito Cesar Maia cassou o alvará de funcionamento do Circo Voador.

Em 1999, ele já dava sinais de rompimento com o mentor. Na luta por uma vaga de candidato à reeleição, o Conde declarou ter tirado “o Governo de Cesar da mediocridade”. Na disputa, Cesar Maia retrucou e disse: “Conde é coadjuvante”

Como no primeiro governo de Cesar Maia ainda não havia a possibilidade de reeleição, Conde foi escolhido pelo próprio Cesar como seu sucessor, sendo apontado por ele como o idealizador dos grandes projetos de seu governo. No entanto, Conde afastou-se de Cesar, seu mentor politico, que saiu do PFL e foi para o PTB.


Em 2000, Conde se lançou candidato e liderou a disputa contra Cesar Maia durante todo o processo eleitoral. No segundo turno, a briga ficou acirrada e depois de soltar algumas declarações como a que "mentia menos que Cesar Maia" e que "o Metrô da Pavuna foi um erro", perdeu as eleições. Cesar Maia foi eleito prefeito com 51% do votos, derrotando Conde que teve 49%.
César Maia e Luiz Paulo Conde inauguram o Túnel da Covanca em 1996 - Marco Antonio Cavalcanti / Agência O Globo

Depois da derrota e o rompimento com seu mentor, Conde aderiu ao grupo político de Anthony Garotinho filiando-se ao PSB e elegeu-se vice-governador na chapa encabeçada por Rosinha Matheus nas eleições de 2002. No ano seguinte, acompanhou a decisão de Garotinho de trocar o PSB pelo PMDB, partido pelo qual se candidatou mais uma vez a prefeito, mas foi novamente derrotado, terminando em terceiro lugar, atrás de César Maia e Marcelo Crivella. No governo estadual, conseguiu levar adiante alguns projetos que já tinha iniciado no município. O projeto do plano inclinado do Morro Dona Marta foi começado por Conde. Em 2008, o então governador Sérgio Cabral concluiu as obras.

Conde era um admirador da música clássica, o que parece ter herdado da mãe, a cantora lírica e musicista Amália Lorenzo Fernandez. Quarto filho de Jose Ramon Conde Rivas , empresário e industrial espanhol, Conde estudou nos Colégios Lafayette e Mello e Souza. Graduou-se em 1959, pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil (atual UFRJ) e trabalhou no desenvolvimento do projeto do Museu de Arte Moderna do Rio (MAM).

Nenhum comentário:

Postar um comentário